sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Espelho meu

Enquanto as lágrimas caíam pela cara redonda de Ema, também a chuva caía na rua, com a mesma tristeza.
A cabeça debruçada sobre as pernas e as mãos a contorcerem-se freneticamente eram alguns dos gestos que fazia.
Os soluços que soltava de tempo a tempo misturam-se com os passos pelo corredor e mais tarde com a voz da mãe que corria para junt da cama, onde Ema se encontrava.
-O que se passa meu amor? O que aconteceu? Diz-me estou a ficar preocupada.
Ema tentava falar mas, tudo o que lhe saía da boca eram apenas pequenos sons que nem ela entendia.
Mal olhou para os pequenos mas expressivos olhos da mãe, viu, que podia confiar nela nela como em pequena fazia quando a mãe lhe ensinava algo, como nadar ou atar uns simples ténis.
Ouviu-se então a voz de Ema a quebrar o silêncio que havia no quarto.
-Mãe, eu sou feia - disse abraçando-se ao peito da mãe.
- Que parvoíce Ema, onde foste buscar essa ideia? Tu és lindissima.
-Mãe por favor, só dizes isso porque sou tua filha e não me queres ver triste. Tu não sabes o que é chegar á escola e ver que toda a gente comenta o teu aspecto, ser sempre a última a ser escolhida apenas porque não se é gira como todas as minhas amigas, ser excluida de tudo, e saber que quando não se é excluida é por causa de estar acompanhada por alguém deslumbrante, gostar tanto de alguém e saber que ele nem sequer olha para nós, um simples olhar, uma simples palavra que nunca acaba por saír da sua boca. Sempre ouvi palavras feias de mim mesmo de todos aqueles que eu considerava meus amigos, ser gozada pelas minha próprias amigas apenas por não ser como elas e ter tudo o que têm. Eu não quero que tenham pena de mim e muito menos receber esmolas. Apenas queria que uma vez na vida olha-se para mim ao espelho e senti-se que sou perfeita tal como sempre quis.
Depois de ouvir todas as lamentações da filha com a máxima atenção, passou a mão pelos longos cabelos da filha e discursou.
-Oh minha querida, não sejas assim para ti. Ouve com atenção tudo aquilo que vou dizer e depois vais pensar em tudo isto e acredita que chegarás a uma conclusão.
Chegou-se para mais perto da filha e agarrou-lhe uma das mãos.
-Meu amor eles dizem que és feia, eu digo-te que és bonita. Em quem acreditarias em mim ou neles. Eu respondo-te. Acreditarias em mim, porque eu nunca te menti e eles quantas vezes te mentiram?

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