quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PARA SEMPRE

Segunda-feira
Depois daquela noite, Constança sentia-se feliz, embora soubesse que tinha feito parte de uma traição. Enquanto guiava em direcção a casa para se poder enfiar debaixo dos cobertores e nunca mais de lá saír, olhava-se no espelho retrovisor, sem conseguir expressar qualquer reacção. Apetecia-lhe chorar mas por mais que tentasse as lágrimas não lhe saíam. Mal chegou a casa, encostou as costas á porta, e enquanto chorava deslizava-as acabando por se sentar no chão.

João acabava de acordar e ainda antes de se levantar já sentia uma enorme dor de cabeça. Sabia que embora um erro, a noite anterior tinha sido a melhor noite da sua vida. Levantou-se e ainda em roupa interior dirigiu-se á cozinha ligando a máquina do café e parando junto á janela que dava para a varanda. Viu que o dia começava cinzento.
-Meu Deus, o que fui eu fazer! - disse metendo as mãos na cabeça.


Quarta-feira
-Então até amanhã minha querida, fico á tua espera. 
Estava preparada para tudo, mas depois do telefoonema da mãe do João sentia-se, de novo, a desmorenar. A relação com ela era como de uma mãe para uma filha, já que tinha namorado com o João dois anos. 
Acabava de a convidar para a festa de noivado do João e da Mariana, a sua noiva, que conhecera depois da separação entre os dois. 
Sentou-se no sofá a presenciar a chuva que caía na rua, enquanto aquecia o coração com uma chávena de cacau quente. 


Quinta-feira 
Constança acabava de chegar àquela casa que por muito tempo lhe tinha sido familiar. Metade das pessoas que já se encontravam na sala, já tinha conhecido e criado laços, tudo isto por ser familia do João.
No Pensamento de Constança, ainda havia a memória de que quando estavam juntos, tudo era para sempre, viesse, o que viesse.
A D.Lurdes, mãe do João correu de braços abertos para Constança.
-Ainda bem que pudeste vir minha querida, fico muito contente.
Enquanto falavam, e a elas se juntavam mais pessoas a cumprimentar Constança, João, junto a Mariana presenciava o momento em que o seu coração batia mais forte, e as pernas embora quisessem correr até ela, lhe tremiam. Lá avançou ainda a medo.
-Mariana, esta é a Constança, uma grande amiga da familia.
O aperto de mão que se seguia era a acção mais dolorosa que Constança tinha feito e sentido.
Depois do cumprmento ambos se afastaram. Constança precisva de apanhar ar depois de tantas recordações que a assolavam.
-Desculpa - surgiu então uma voz enquanto ela vislumbrava o mar.
Virou-se e encarou-o nos olhos.
-Pelo quê? - enfrentou-o ela.
-Pela noite que tivemos. Não devia... - ela interrompeu-o.
-A culpa não foi tua, aliás, não foi de nenhum dos dois. Nada aconteceu. Não passou de um erro que cometemos apenas porque nos sentiamos sozinhos. Descansa e esquece tudo o que aconteceu, até porque nunca mais estaremos juntos.
Ela pousou o copo de champgne e dirigiu-se para a porta. Parou antes de a passar e falou para ele.
-Parabéns, talvez tenha sido ela por quem tu tenhas esperado toda a vida.
Constança saíu do portão da vivenda e entrou no carro que saíu rapidamente do estacionamento.
-Porque não admites de uma vez por todas que a amas mais do que qualquer coisa na vida? Estás a enganar duas mulheres e a ti mesmo - dizia Gonçalo, o seu grande amigo que sempre tinha presenciado o romence desde o principio.
-Que queres que eu faça? Se calhar é mesmo isso que tem de acontecer. De que serve dizer á Constança que é a coisa mais importante na minha vida, se depois as coisas não resultam entre nós? Acabou, acabou para sempre. - disse enquanto bebia mais um pouco e enrolava o corpo como se estivesse desprotegido.
Constança parou o carro, agarrou o volante com força e chorou, chorou por saber que ainda o amava como na primeira vez que o vira.


Sábado
Era o grande dia e a última vez que ambos se iriam ver.
Constança acabava de chegar á igreja e já á porta via João com o seu fato preto e gravata verde.
Tinha pedido á Beatriz, sua melhor amiga, para ir consigo, podia ser que assim aguentasse melhor aquela angustia.
-Calma, eu estou aqui - dizia Beatriz na sua voz serena.
-Meninos, vocês têm de tirar uma fotografia juntos - anunciou a D.Lurdes.
Agarrou-o no braço e os seus olhos cruzaram-se com os dele. Ela lembrou-se do seu olhar, de como a confortava e seduzia. Ficaram a olhar-se até ao disparar do primeiro flash.
Ambos estavam incomodados com a situação.
-Uau, que fotografia maravilhosa, que cumplicidade - espantou-se o fotografo.
O nervosismo de Constança começava a aumentar a cada plavara proferida. O João já sse encontrava no altar e a música de entrada começava a tocar ao memso tempoque a noiva entrava de braço dado com o pai.
A Beatriz agarrou com força a mão de Constança que teimava em conter as lágrimas. Por mais que tentasse encarar o facto de que tudo tinha acabado, as lágrimas queriam sair.
No momento em que os votos são trocados, em que chega a hora de a noiva dizer que "sim" em frente a todos, o coração de Constança começou a apertar.
-Não aguento mais Beatriz, eu pensava que ia ser fácil mas não aguento mais.
Constança saíu da igreja parando junto da porta e foi quando João olhou na sua direcção e viu as suas lágrimas a correrem do rosto. O rosto que tantas vezes percorrera com os seus dedos e que tão maravilhoso era quando sorria.
"Meu Deus o que estou a fazer? Não é isto que quero. Eu apenas a quero a ela"
Pediu desculpa a todos e saiu a correr sem se justificar a ninguem. Muitos dos presentes na cerimónia seguiram-no. Quando saiu da igreja apenas viu o pior que lhe podia acontecer.
Constança atravessava a estrada lavada em lágrimas, e numa fracção de segundos um carro atropelou-a. Caíu no chão alguns metros mais á frente. 
João correu para ela. Ajoelhou-se e já com uma lágrima no canto do olho viu a cara de Constança coberta de sangue. O seu corpo não se movia.
- Constança, acorda por favor. Não me deixes. Acorda. - chamava ela em desepero.
Á volta juntavam-se mais pessoas. 
Ela abriu os olhos ligeiramente na direcção de João. 
-Fica comigo Constança, por favor, não me deixes agora. Eu amo-te mais do que tudo na vida. Preciso de ti. Foi por ti, e só por ti, que eu esperei toda a vida. Não me deixes. Quero ficar contigo.
Ela sorriu. Não o sorriso aberto que costumava demosntrar, mas um sorriso sincero e alegre que nos últimos anos não tinha conseguido fazer. 
-Eu sei que sim. Nestes últimos anos esperei que me dissesses isso. E não podes imaginar o quão feliz eu estou neste momento por saber que o disseste. Eu sei, aliás, sempre soube, que era eu por quem tu te apixonas-te. Eu também te amo. Mas se calhar é mesmo assim que tudo tem de acontecer.
-Não, por favor. Não pode ser. Isto não pode acabar aqui. Porque é que tem de ser tarde demais? Apenas te peço que aguentes.
-João, pára. Nunca foi tarde demais. Foi tudo perfeito. E é assim que tens de recordar todos os momentos. Tudo isto serviu para que muitos possam perceber que nunca é tarde demais. Eu amo-te aqui, ou noutro sitio - a sua voz começava a falhar e os seus lhos a fechar lentamente - para sempre João, para sempre.
A sua cabeça tombou no peito do João e os seus olhos fecharm-se para sempre.
João chorava e coberto de sangue acariciava o seu rosto afangando ao mesmo tempo o seu cabelo. 


1 ano depois 

A fotografia continuava a ser a mais bela que tinham juntos. Talvez por ter sido a última. Um ano passara desde a morte de Constança.
Por vezes recordava-se dos últimos segundos de vida que ela tinha tido. Por vezes até se torturava por saber que apenas nos últimos segundos da sua vida se tinha apercebido que havia uma pessoa que amava mais do que tudo. Porém sabia que onde quer que ela estivesse continuava a estar com ele todos os dias da sua vida.
Muito tinha mudado no último ano. Acabara por não se casar com Mariana. Tivera uma sobrinha com nome de Constança e tinha cumprido o sonho que ambos tinham, percorrer o mundo e presenciar cada história de amor que havia.
Olhando agora para a fotografia sorria. Sorria, porque sabia que nada tinha sido em vão, e se as coisas tinham acontecido era porque assim tinha de ser. A morte nem sempre significava o fim de alguém, mas sim o começo de algo novo.
E no fundo as últimas palvras de Constança ecoavam nos seus ouvidos no último ano.
"Para Sempre João, PARA SEMPRE."

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